quinta-feira, 8 de abril de 2010

Como se começa a escrever um Ícone?







A elaboração de ícones religiosos é uma arte que necessita não só de uma grande preparação técnica mas também espiritual.

No passado, os iconógrafos eram na grande maioria monges, ou seja, acostumados a uma intensa vida de oração, silêncio, ascese, jejum. Eles viviam mergulhados no mundo espiritual. Considerava-se então que eles podiam melhor exprimir o rosto e o mistério de Deus. O costume da oração e da disciplina monástica tornavam-se, assim, importantes componentes da acção do artista.

A igreja ortodoxa, ao lado de várias ordens dos santos: confessores, mártires, doutores, virgens, coloca também os santos iconógrafos, cuja arte é considerada um testemunho evidente de santidade. Entre eles encontra-se o Santo Andrej Rublev, canonizado pela Igreja eslava.
Nos nossos dias não há a exigência de que o iconógrafo seja monge, mas deve estar ligado à sua Igreja local e deve ter uma vida de oração.
Sem oração, o iconógrafo encontra-se morto para o mundo espiritual e ainda que possuísse perfeitamente a técnica do ícone, a sua obra sempre seria sem alma.

Todos estes aspectos tornavam evidente que o Ícone não resultava só da mão ou inteligência ou sensibilidade artística daquele que escrevia o Ícone porque, em oração, durante a escrita do Ícone, procurava estar permanentemente consciente da presença de Deus e dos Seus Santos que iam inspirando a elaboração do Ícone.
Não era, então, conveniente assinar a obra. Aquele que escrevia o Ícone despojava-se desse mérito que reconhecia não ser totalmente seu.

Enquanto é executada a obra, mentalmente, invoca-se ininterruptamente o nome de Jesus, na breve oração:
“Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, tende piedade de mim”
É a súplica do cego de Jericó, que pede a capacidade para ver: Lc 18,38

Eis algumas normas, mais espirituais, que era necessário seguir:
- Antes de iniciar o trabalho, faz o sinal da cruz, ora em silêncio e perdoa os teus inimigos;
- Conserva o teu espírito longe das distracções e o Senhor estará perto de ti;
- Cuida de cada detalhe do teu ícone como se trabalhasses diante do próprio Senhor;
- Quando escolheres uma cor, eleva interiormente as tuas mãos ao Senhor e pede conselho;
- Não sejas invejoso do trabalho do teu próximo;
- Quando terminares o teu Ícone, agradece ao Senhor, porque a Sua misericórdia te concedeu a possibilidade de pintar os Santos Reflexos/Imagens;
- Sejas tu mesmo, o primeiro a orar diante do teu Ícone;
- O teu trabalho deve ser de felicidade;
- Lembra-te que serves, comunicas e cantas a Glória do Senhor através do teu Ícone.

Os antigos manuais de Iconografia sugerem várias orações para o momento em que o Iconógrafo inicia o seu trabalho.
Deixo aqui uma das mais belas que encontrei, e faço também minha esta oração, no início desta “viagem”:

“Oh Divino Mestre! Apaixonado artífice de toda a criação. Ilumina o olhar do teu servo, guarda o seu coração, rege e governa a sua mão para que, dignamente e com perfeição, possa representar a Tua Santa imagem. Para a glória, a alegria e a beleza da Tua Santa Igreja”










1 comentário:

Anónimo disse...

Adorei este post. OBRIGADO!