quarta-feira, 17 de março de 2010

Como tudo começa...


Toda a Antiguidade está marcada pelos deuses que se foram criando para responder a todas as inquietações, medos e desejos do ser humano.

Tudo mudou na História de tantos povos quando, algumas tribos de pastores nómadas começaram a descobrir um Deus único.
Talvez agora não tenhamos bem a noção disso porque as grandes religiões dos nossos dias são monoteístas (fé num único Deus).
Mas, na Antiguidade, o que era comum era a crença em vários deuses. Podemos imaginar então a “luta” dessas tribos de pastores nómadas, que se tornaram num povo, para nunca perder a sua identidade ligada, aliada, a um só Deus, contra todas as influências das crenças de todos os povos em seu redor.

“O nosso Deus não é como os outros deuses.” Era a maior certeza, a força deste povo.

A sua certeza de que o seu Deus não era um ídolo desses que se fabricam a partir da madeira, do bronze ou do barro, fazia com que jamais ousassem representar a imagem do seu Deus.
“Deus pronunciou todas estas palavras, dizendo: «Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te fiz sair da terra do Egipto, da casa da servidão.
Não haverá para ti outros deuses na minha presença.
Não farás para ti imagem esculpida nem representação alguma do que está em cima, nos céus, do que está em baixo, na terra, e do que está debaixo da terra, nas águas.”
Ex 20, 2-4

“O SENHOR falou-vos do meio do fogo; ouvistes o som das palavras, mas não vistes figura alguma. Era uma voz apenas. (…)
«Tomai muito cuidado convosco, pois não vistes imagem alguma no dia em que o SENHOR vos falou no Horeb do meio do fogo. Portanto, não vos deixeis corromper, fabricando para vós imagem esculpida de qualquer ídolo. (…)
Tomai cuidado em não esquecer a aliança que o SENHOR, vosso Deus, contraiu convosco e em não fazerdes para vós qualquer imagem esculpida, porque o SENHOR, teu Deus, assim o ordenou. O SENHOR, teu Deus, é um fogo devorador; Ele é um Deus ciumento.»”
Dt 4, 12.15-16.23-24

MAS,
tudo muda quando nasce e vive entre nós Jesus de Nazaré.
“A Deus jamais alguém o viu. O Filho Unigénito, que é Deus e está no seio do Pai, foi Ele quem o deu a conhecer.” Jo 1,18
“Quem me vê, vê o Pai” Jo 14,9

Quando sabemos que o filho é a cara do pai, então podemos dar um passo maior.
Aquele cujos traços do rosto e da vida não conhecíamos, tornou-se um de nós através do Seu Filho. E porque o Seu Filho é um de nós, então podemos representá-lo.

Aquele que só podia ser acolhido, louvado e lembrado
- pela Memória, quando o povo recorda toda a História de Salvação caminhada com Ele;
- pelo Ouvido, quando o povo escuta dos seus ancião essa mesma História Salva
- pela Boca, quando o povo proclama esta História, quando louva o seu Deus

Com Jesus de Nazaré, os que com ele estiveram, puderam através dele continuar a fazer Memória, puderam continuar a Ouvir, e pela Boca proclamar e louvar, mas de modo especial também puderam
- Ver
- Tocar
este mesmo Deus que Jesus de Nazaré começou a mostrar na sua vida.
Deus faz-Se tão “nosso” que se deixa ver, tocar…

Os nossos irmãos ortodoxos “apanharam” com uma incrível seriedade e profundidade esta necessidade tão humana de ter diante dos olhos um meio de contemplar, louvar, lembrar, anunciar, meditar… amar… através das imagens “escritas” – ÍCONES – em tábuas de madeira ou nas paredes das igrejas.

Bem podemos dizer que “uma imagem vale mais que mil palavras” porque, às vezes, é assim. Às vezes as palavras já não chegam para dizer toda a Beleza e as Cores e a Alegria de Deus, e as palavras de todo o Seu caminhar peregrino connosco.
O Ícone é o deixar-se estar a saborear Aquele que as palavras não dizem, mas se vêem em Jesus de Nazaré.

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