domingo, 27 de fevereiro de 2011

Apresentação de Jesus no Templo

Quando se completaram os oito dias, para a circuncisão do menino, deram-lhe o nome de Jesus indicado pelo anjo antes de ter sido concebido no seio materno.


Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo o primogénito varão será consagrado ao Senhor» e para oferecerem em sacrifício, como se diz na Lei do Senhor, duas rolas ou duas pombas.
(pormenor de um tríptico)
Apresentação de Jesus no Templo,
séc XII, no Mosteiro de Sta. Catarina do Sinai

Ora, vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo estava nele. Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor.

Impelido pelo Espírito, veio ao templo, quando os pais trouxeram o menino Jesus, a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu respeito.
Simeão tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo:
«Agora, Senhor, segundo a tua palavra,
deixarás ir em paz o teu servo,
porque meus olhos viram a Salvação
que ofereceste a todos os povos,
Luz para se revelar às nações
e glória de Israel, teu povo.»
Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se dizia dele.
Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações.»

Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, a qual era de idade muito avançada. Depois de ter vivido casada sete anos, após o seu tempo de donzela, ficou viúva até aos oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, participando no culto noite e dia, com jejuns e orações. Aparecendo nessa mesma ocasião, pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém.

Depois de terem cumprido tudo o que a Lei do Senhor determinava, regressaram à Galileia, à sua cidade de Nazaré.
Lc 2, 21-39



Apresentação de Jesus no Templo,
séc XVI,
mosteiro de Sta Catarina do Monte Sinai



Sob um olhar atento...

Entre os nossos irmãos ortodoxos esta Festa da Apresentação de Jesus no Templo é também chamada de Festa do Encontro. É o encontro da humanidade com Cristo. É o encontro entre a Antiga Aliança e a Nova Aliança inaugurada por Jesus.
É o Encontro entre o Homem Velho, Simeão, e o Homem Novo, Jesus.
Todo o ícone é luminoso. O menino está vestido de luz. A Luz chegou, tal como diz Simeão.

Nele vemos Maria a oferecer Jesus, de braços estendidos, a Simeão e Ana, anciãos que o acolhem com alegria. José, um passo atrás, leva as duas pombas para cumprir o ritual.
Todo o conjunto nos sugere o passo de uma procissão em direcção ao Templo.

Em segundo plano podemos observar a arquitectura com a habitual despreocupação das proporções e em que se notam as linhas da perspectiva dos edifícios a apontar para a figura central do ícone, Maria.
Acima, o véu do Templo, aberto com a chegada desta “procissão”.

Simeão e Ana, anciãos, ao mesmo tempo que nos podem fazer lembrar Adão e Eva a acolherem Jesus Salvador, são também, nesta passagem de Lucas, chamados de profetas. Fazem, portanto, parte dessa linhagem tão importante na História da Salvação do povo que, atenta, espera e anuncia a chegada do Messias.
Ana olha directamente para quem observa o Ícone, e aponta-nos para o Encontro.

Curiosamente, de maneira especial neste belíssimo segundo ícone, podemos reparar na figura de José como alguém que se encaminha, hesitante e desajeitado, talvez também deslumbrado, em direcção ao Mistério. Reparemos no pormenor dos seus pés… ele pisa inadvertidamente um pé de Ana.

Outro pormenor importante, sob um olhar mais atento, é o que me parece ser um livro caído entre Maria e o menino que, pela disposição das mãos, parece ser Maria, a grande fiel e cumpridora da Antiga Aliança e a resposta à espera atenta da chegada do Messias, que deixa cair. Será a Antiga Lei? que, depois de cumprido o seu tempo é deixada aí, junto da arca, para acolher a Nova Aliança... e que pela sua fidelidade atenta, estende os braços, e acolhe Jesus que traz a Nova Lei, a do Amor, com a Nova e eterna Aliança entre Deus e a humanidade...

A figura de Simeão com Jesus nos braços é iconograficamente rara. Neste abraço vemos uma versão masculina do Ícone da Ternura que retrata Maria com Jesus. Os ícones em que apenas aparece Simeão representado com o menino têm inscrições como por exemplo: “Aquele que leva Deus ao colo” ou “Aquele que acolhe o Senhor”.


O vaso de flores:
Na tradição da iconografia mais antiga, aquele pote seria o que Maria carregava para ir buscar água à fonte no momento em que lhe foi anunciado pelo anjo o nascimento de Jesus.
Aqui o vaso aparece florido. Pode levar-nos a lembrar que o tempo de deserto acabou. Chegou a salvação de Deus na Nova Aliança.
"Abra-se a terra para que floresça a salvação" Is 45,8
"Floriu a vara de Jessé" Is 11,1
Talvez se possa ver também uma referência ao cântaro que a samaritana levava para ir buscar água (Jo 4). Jesus é a água viva, já não é preciso saciar a sede nas antigas fontes.


Floresceu e deu fruto a fertilidade/fecundidade da procura/atenção, da espera do enviado de Deus,  e Maria é a imagem do resto fiel que deu esse salto deixando cair Antiga Aliança com o seu Templo e as sua Lei para agarrar Nova Aliança que tem o rosto de Jesus.



Sob um olhar orante...

"O Criador do Adão é levado como menino,
Aquele que ninguém pode conter, deixou-Se conter nos braços de um velho."

" A Simeão que estava quase a abandonar este mundo efémero,
foste apresentado como menino, quando ele te conhecia como Deus perfeito,
e ficou atónito pela tua inefável sabedoria,
e com ele também toda a natureza angélica ficou surpreendida pela grande obra da tua Encarnação,
porque via Aquele que é inacessível como Deus,
acessível a cada um como homem, conversar connosco e escutar-nos a todos."
Hino Akathistos
          

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